27.
OS DUENDES
Ao meu irmão bem-amado Michel, paz à sua alma.
”Aquele que combate no interior de si mesmo”
Inscrição rúnica sobre o cone de um escudo de Thorsberg.
Eles vêm frequentemente nos meus sonhos, os duendes.
Vejo-os comer fogo com grandes colheres
De ouro incrustadas de diamantes.
Seguidamente, põem-se a ler seu futuro
Nas finas vênulas das folhas de bétula.
Mais distante, num desvio, detém-se um velho duende -
Põe um sermonário sobre uma carteira de carvalho
Limpa-se os dentes mastigando margaridas
E começa a murmurar palavras que não consigo
Escutar.
Os corações dos duendes inflam
Sempre ao cantar de um cuco
E fazem saltitar as ervas gordas.
Cansados de emoção
Eles se deitam
Sob os pavilhões dos cogumelos
E ouvem ao adormecer,
Os poemas rúnicos
Das agulhas dos pinheiros !
Vêm frequentemente nos meus sonhos, os duendes
Sempre quando a morte tenta
Jogar xadrez comigo
Athanase Vantchev de Thracy
Rueil-Malmaison, este domingo 13 de julho de 2008
28.
MINHA
Para Théo e Anastase Crassas
”O riacho em frente a minha porta,
os montes à minha janela, eu escuto o silêncio...”
Wang Wei
Vocês gostam desta bela leitura diária
Que só o poema pode proporcionar
Pegar essa vida sublime
Que verte da ruptura do mundo.
Desse arrombamento
Por onde o infinito
Sobe das profundidades do silêncio
E aparece.
Sim, meus amigos,
A poesia é um
Akalepton,
Tudo o que é e não pode ser tocado
A evidência incompreensível,
O fruto que se saboreia
E que não se pode colher.
É isso, meus amigos,
Tremulando em grinaldas
Banhadas em beleza as coisas e as palavras,
Os dois lados paralelos
Da mesma estrada
Adornados com flores campestres,
A mágica sutura
que aproxima as duas bordas
De uma ferida profunda
A arte sutil que une
O verso e o reverso do tempo.
Sim, meus amigos,
A pequena luz de uma lâmpada que oscila
Em meio à densa escuridão da noite
Que faz existir o universo,
Esta realidade inicial que só ela pode apreender.
Ela é o ouvido
Que ouve trautear os louros
O olho atento que vê os anjos
Descer sobre as folhas empoeiradas
Fechadas nas gotas transparentes da chuva,
O ser que preenche o vazio.
Ela é, meus amigos,
A face luminosa de uma hora tardia
Que se inclina com infinita doçura
Sobre as feridas
De uma alma destruida.